A primeira equipa estrangeira a ser contactada para correr nas “6 Horas Internacionais de Nova Lisboa” de 1971 foi a de Norman Casari e Jan Balder com um Lola T/70.
E… assim nos aventurámos a levar um carro do Brasil para Nova Lisboa, por via marítima, sem fazermos ideia onde nos estávamos a meter, pois tudo correu mal e fazer chegar o carro ao Huambo foi uma carga de trabalhos.
Naquela altura as comunicações telefónicas de Angola para o Brasil eram péssimas e as poucas tentativas que fizemos para falar com o Norman mal resultavam, pois não ouvíamos nem metade das palavras e as poucas que chegavam mal se percebiam.
Assim, as peripécias começaram por o carro, em vez de ter sido despachado para Angola, ser enviado para a Cidade do Cabo, na África do Sul.
Depois de vários contactos, lá conseguimos que o carro fosse metido noutro barco da Cidade do Cabo para o Lobito.
Entretanto, mesmo antes dele, chegava a Nova Lisboa o mecânico da equipa para afinar aquilo que ainda estava noutro país.
Por fim, o carro lá chegou ao Lobito e dali seguiu para Nova Lisboa em cima de uma camioneta.
Mal ali chegou e quando pensávamos que os problemas se encontravam resolvidos, verificou-se que uma caixa com vários “rapports”, demais sobresselentes e ferramenta tinha ficado esquecida na Cidade do Cabo.
Mais uma dor de cabeça.!
Cometemos o “feito” de, num domingo (dia sagrado na África do Sul destinado ao descanso total), termos conseguido falar com o cônsul de Portugal na Cidade do Cabo, interessá-lo pelo problema e a “famigerada” caixa lá acabou por chegar também, por via aérea.
Depois de tanta peripécia, no dia dos treinos o Lola lá estava, parecia... pronto para as “6 Horas”.
Arrancou, deu 2 ou 3 voltas com o motor a falhar e encostou às boxes.
Ao perguntarmos ao Oliveira (assim se chamava o mecânico) o que se passava, ele respondeu: “Uma pequena encrenquinha… vai resolver-se com facilidade..”
Mas a encrenquinha foi tal que o Lola não mais andou.
Às quatro da madrugada do dia da corrida, o Norman e o Balder, acompanhados do Dr. Pinto de Castro, meu médico em Nova Lisboa, batiam-me à porta porque queriam alugar o Porsche do Dr. Ivon Brandão a fim de participarem na prova.
Custou-me muito ter de dizer-lhes que não podia autorizar porque o carro não estava inscrito.
Custasse o que custasse, os regulamentos seriam cumpridos.
Foi doloroso tomar esta decisão porque estava deitando um balde de água fria no entusiasmo daqueles dois simpáticos pilotos e porque, depois da hecatombe dos treinos, precisava de carros para a prova quase como “pão para a boca”.
Assim, o Lola não participou na prova e… passados dias, aproveitando um avião que fora levar zebus para uma exploração pecuária, lá nos deixou rumo à Argentina.
Tanto trabalho para nada. Tinha sido, de facto, uma verdadeira encrenquinha.
No ano seguinte, a convite da organização, o Norman e o Balder voltaram a estar em Nova Lisboa e, desta vez, correram num Porsche 907 alugado ao André Wicky.
Conversando com o Norman sobre o Lola disse-nos: “Aquele carro não estava destinado a correr… na primeira prova em que participou, depois da ida de Nova Lisboa, ardeu completamente.
E assim terminou a vida do “encrenquinha” que tanto trabalho dos deu.
Mas serviu-nos de lição pois, no ano seguinte, os carros de fora de Angola seguiram todos por via aérea.